Ateísmo: materialismo: humanismo
“O homem só será livre quando o último rei for enforcado nas tripas do último padre.” Jean Meslier.
Temos um gravíssimo problema filosófico, o que significa ser algo? Basta se autointitular sem entender as reivindicações que você está tentando defender? No mínimo é necessário explicar sua posição e explicar o que você acredita sem se contradizer. Ser alguma coisa implica que você viva a vida de acordo com o rótulo que escolheu para si mesmo. Você também deve ser consistente em como se comportar e explicar suas decisões. Também envolve estar atento e consciente das maneiras pelas quais suas decisões afetarão as pessoas ao seu redor.
Então há o problema de definir o significado de ateísmo. Esqueçam meus amigos por um instante as definições etimológicas nas quais foram doutrinados a seguir fervorosamente. Há quem apesar de se assumir ateu, crê em astrologia, ou reencarnação, ou coisas sobrenaturais e sempre se justifica com o (triste) "argumento" de que "ateu não crê em deus, no resto posso crer". Absurdo? Sim, de fato, mas esses "ateus" (ou que assim equivocadamente se enxergam, talvez por ainda não terem refletido sobre suas crenças) existem. Não os enxergo como ateus, são pessoas irracionais, não são ateus de verdade, são ignorantes, irracionais que cometem a falácia de apelo emocional, apelam as definições de dicionário, mas tais definições podem e irão um dia mudar. Por ser alvo de interesses políticos a definição de ateísmo é polêmica, os indivíduos que são irracionais e desonestos não percebem, ou negam o fato de que o conhecimento humano é uma estrutura, uma rede de ideias, então as proposições não podem existir isoladamente sem que impliquem outras milhares de proposições. A proposição de que “deus não existe” possui diversas implicações filosóficas, tanto no campo político e existencial, quanto na ética e moral; o ateísmo deve ser definido como uma ideologia materialista e humanista. Ateísmo não é apenas descrença em deuses e sim a descrença no sobrenatural, isso significa que o ateu não acredita em espíritos, não acredita em nada que viole as leis da física. Ateísmo é o equivalente ao materialismo, ser qualquer coisa necessita um padrão a ser seguido, o padrão para o ateísmo é o materialismo e o humanismo. Tudo na vida tem um sentido político, o materialismo aplicado na política implica posições humanistas e progressistas. Portando é aqui que separo o joio do trigo, não existe nenhum ateu de direita. E não existe nenhuma religião ateísta, pois ateísmo é a antirregião. Religiões como budismo, são apenas proto-materialistas.
Proto-ateísta, ou proto-materialista são aqueles que se dizem ateus, mas negam o ateísmo em algum ponto específico porque não entendem do assunto, ou são desonestos. Proto-ateísmo, ou proto-materialismo é a maneira como chamo quem se diz ateu, mas na política defende ideais da direita política, ou pior quem se diz ateu e acredita em espíritos, ou na terraplana. O termo proto serve para designar aqueles que não são materialistas por completo. Há vários filósofos defendendo ideias irracionais como a existência de religiões ateístas, não meus amigos, o ateísmo é a antirregião, o ateísmo é incompatível com a fé no sobrenatural, portanto, religiões como o budismo, apesar de não professarem a fé num deus, defendem a existência de espíritos e reencarnação, estão mais alinhadas à religião do que ao ateísmo.
Quando alguém diz que deus não existe está afirmando que o universo é eterno e inconsciente.
A história antiga sugere que o ateísmo é tão natural para os humanos quanto a religião e remonta a origem de uma ideia: o universo é eterno, portanto, não foi criado porque sempre existiu e sempre existirá. A verdadeira história do ateísmo: o surgimento do materialismo é muito anterior ao surgimento de religiões como o cristianismo, ou seja, a primeira filosofia materialista primitiva surgiu na Índia em 600 A.E.C, que se chama charvaca. Os charvacas declaravam não haver alma e a morte é o fim de toda existência. Eles acreditavam na necessidade de uma vida hedonista e que é necessário ficar longe de quaisquer crenças e fantasias religiosas. Para os charvacas tudo que está além dos sentidos era considerado falso e errado. Eles acreditavam que a única fonte de conhecimento eficaz é aquilo que nossos sentidos podem perceber; ou seja, apenas o mundo material. Mais tarde, outras tendências mais fracas do materialismo primitivo apareceram em religiões como o budismo e o jainismo que pregam um universo eterno.
Na Grécia, Tales de Mileto (624 - 546 A.E.C) considerado o primeiro filósofo grego e foi responsável por lançar a primeira concepção filosófica que leva ao ateísmo, — a ideia de um universo eterno —, aparece nos escritos de Tales, Mas ele combina a ideia de um universo eterno com a de que os deuses surgiram depois, ou seja, já existia algo eterno, segundo Tales, a origem de todas as coisas estava no elemento água: quando densa, transformar-se em terra; quando aquecida, viraria vapor que, ao se resfriar, retornaria ao estado líquido, garantindo assim a continuidade do ciclo. Nesse eterno movimento, gradualmente novas formas de vida e evolução iriam se desenvolvendo, originando todas as coisas existentes, e isso formou os primeiros deuses, para Tales o universo era eterno e estava cheio de deuses filhos da água.
O surgimento de ideias materialistas é tão comum que existem tribos que não possuem o conceito de uma divindade criadora e não fazem rituais de culto aos mortos. No Brasil, existe a tribo Pirarrã que desenvolveu uma cultura proto-materialista. Eles representam o que chamo proto-ateísmo, ou proto-materialismo que é uma mistura cultural de ideias materialistas e religiosas. Acredito que por desenvolverem a noção de um “mundo eterno” a religiosidade Pirarrã foi afetada de tal maneira que é visivelmente mais pobre se comparada aos rituais e crenças religiosos de outras tribos. Os membros desta tribo não acreditam em nada que não possam ver, sentir, provar ou ver, a tribo não tem um mito sobre a criação do mundo, eles não veem nenhuma necessidade de explicar a origem das coisas ou da vida, eles acreditam que à terra e o céu sempre existiram, isso significa que a tribo não acredita numa divindade criadora, não há, portanto, a crença numa divindade suprema e transcendental. Em 1970 o linguista e missionário americano Daniel Everett tentou evangelizar a tribo e convertê-los ao cristianismo, ele escreveu um livro descrevendo a cultura Pirarrã, ele tentou levar fé aos índios, mas acabou se tornando ateu. “A última coisa que os Pirahã precisavam na terra era de Jesus. Na verdade, após viver algum tempo com eles, percebi que era a última coisa de que eu também precisava na Terra.” Daniel Everett, os indígenas perderam o interesse por Jesus ao descobrir que ele nunca o vira, os Pirarrãs exigem evidências baseadas na experiência pessoal para cada afirmação feita. Porém, eles acreditam em espíritos que às vezes podem assumir a forma de coisas no ambiente. Esses espíritos podem ser onças, árvores ou outras coisas visíveis e tangíveis, incluindo pessoas. O que eles chamam espíritos sempre é algo material e palpável para eles. Um idioma de difícil tradução, bem como uma cultura proto-materialista torna a tentativa de conversão a outras religiões como a cristã algo mais difícil de acontecer. Há outras tribos no mundo que tem desenvolveram a mesma noção de universo eterno, os Hadza são caçadores e coletores que vivem nas margens do Lago Eyasi, no norte da Tanzânia. A organização da sociedade Hadza é simples: eles não reconhecem líderes, não têm obrigações sociais, nem comemorações, ou seja, não há feriados, aniversários, funerais ou casamentos, rituais religiosos são raros, eles não acreditam em mitos de criação e não tem uma divindade criadora, não acreditam na vida após a morte, nem têm feiticeiros, curandeiros ou rituais funerários especiais, os cadáveres são enterrados num buraco cavado no solo e às vezes deixado ao ar livre para as hienas comerem. Eles adoram ancestrais e acreditam que eles existem na forma espiritual. Até agora, as tentativas dos cristãos de destruir a cultura Hadza fracassaram.
Desde o seu surgimento na época romana o cristianismo passou a dominar todas as correntes de pensamento na Europa. Aqueles que em algum momento desafiaram à autoridade cristã foram condenados por “impiedade”, termo que implicava falta de reverência, não negação total de um ser supremo. Foi no século 17 que o termo e o conceito de ateísmo (derivados da filosofia grega antiga) se tornaram um fator no universo intelectual europeu. Por exemplo, em 1611, Cyril Tourneur, dramaturgo inglês, publicou uma obra intitulada A Tragédia dos Ateus, um assunto que seria inconcebível um século antes.
O nascimento da ciência moderna representa um momento de crítica as tradições cristãs. Há uma clara correlação entre a racionalidade materialista e a ciência, o ateu, isto é, o materialista tem um enorme desejo e apreço pelo desenvolvimento científico e tecnológico.
O historiador Jonathan I. Israel, observou:
“Foi inquestionavelmente o surgimento de novos sistemas filosóficos poderosos, enraizados nos avanços científicos do início do século 17 e, sobretudo, nas visões mecanicistas de Galileu, que geraram principalmente o vasto Kulturkampf entre as tradições, ideias teologicamente sancionadas sobre o homem, Deus e o universo e concepções seculares e mecanicistas que se mantinham independentes de qualquer sanção teológica” (Iluminismo Radical: Filosofia e a Fabricação da Modernidade 1650–1750 [2009]).
Em 1677 o Parlamento inglês fez do ateísmo uma ofensa capital e, em 1697, através do Blasphemy Act, condenou politeístas, falsos cristãos e quem quer que blasfemasse contra a doutrina da Trindade, reprimindo assim qualquer forma de contestação religiosa. O autoritarismo da ortodoxia cristã não perdoava a descrença de ninguém, assumir o ateísmo era pedir por tortura e execução. No ano de 1697, na Escócia, um estudante universitário, Thomas Aikenhead foi a última pessoa a ser enforcada pelo crime capital de “blasfêmia”. A evidência desse “crime” foram discussões verbais que ele teve com meia dúzia colegas. Em alguns casos, os escritos pessoais dos acusados de ateísmo foram queimados na fogueira com seus autores. Poucos manuscritos clandestinos ou póstumos que argumentam contra a existência de deus, em qualquer sentido, foram encontrados.
Na Grécia antiga o termo ateu a princípio significava uma ofensa, Sócrates que acredita num deus único foi acusado de ateísmo e de corromper os jovens que acreditavam nos vários deuses de Atenas. Inclusive, Platão discípulo de Sócrates defendia pena de morte para quem defendesse o ateísmo. O filósofo Platão no livro 10 das Leis, registra o que é considerado por ele o “problema” da disseminação da descrença pelos materialistas. Platão foi o primeiro a associar o ateísmo à imoralidade, dando à palavra “ateu” um significado ofensivo que permanece até hoje entre fanáticos religiosos.
Nos tempos modernos, defender o ateísmo ainda era um crime aplicável a qualquer pessoa que questionou ou desafiou a ortodoxia cristã dominante. Na verdade, católicos e calvinistas faziam acusações mútuas de ateísmo. Em alguns casos, o pensamento dos acusados de rejeitar o cristianismo estava mais próximo de outras formas ecléticas de cristianismo, teísmo, panteísmo ou deísmo.
O termo ateísmo ao longo da história passou a ser usado em dois, ou mais sentidos diferentes. Os ateus “práticos”, que se supunha serem muito numerosos, eram aqueles que viviam como se não houvesse divindades. Eram considerados aqueles que se envolviam em todos os tipos de vícios e crimes para satisfazer seus desejos mundanos sem medo da condenação eterna. Os ateus “especulativos”, que se supunha serem raros, eram aqueles que negavam a existência de um ser supremo por motivos intelectuais. Quando pensadores heterodoxos como Thomas Hobbes e Baruch Spinoza repudiaram enfaticamente a acusação de ateísmo, eles estavam em parte negando que fossem egoístas, criminosos, ou depravados…
Na Idade Média, no século 10, o cego de Al-Ma'arri na Síria tornou-se um dos mais importantes poetas e filósofos árabes de todos os tempos. Ele era um racionalista ateu e, na época, atacou os ensinamentos religiosos recusando-se a reconhecer o monopólio da verdade islâmica. Ele nasceu numa família importante em 973. Seu ancestral foi o primeiro juiz islâmico da cidade, e os demais eram poetas. Aos quatro anos, Al Ma'arri contraiu varíola e ficou cego. Ele disse a si mesmo: “Quando eu tinha quatro anos estava destinado a não distinguir camelos adultos de camelos recém-nascidos.” Mas, ele compensou sua cegueira com uma memória extraordinária.
Na Idade das Trevas do Ocidente, alguns filósofos e intelectuais começaram a adotar o entendimento atomista da matéria, espaço e tempo, um modo de pensar que foi amplamente influenciado por trabalhos acadêmicos dos árabes, particularmente, o filósofo islâmico Algazali. A partir disso, Nicolas d'Autrecourt desenvolveu suas crenças, que se assemelhavam à teoria proposta por Algazali, apesar de Autrecourt ter elaborado muitas de suas próprias ideias. Infelizmente, em 1346, as crenças de Autrecourt foram condenadas e rotuladas como heresia pelo Papa Clemente VI, enquanto que Autrecourt foi forçado a queimar seus escritos em público, suas ideias inspiram pensadores do mundo ocidental para a compreensão da matéria, espaço e tempo.
Para afirmar o ser humano é preciso negar os deuses, o humanismo é uma ideologia que teve início no renascimento italiano no século 15 e se espalhou pela Europa, quebrando a poderosa influência da Igreja e do pensamento religioso medieval. A divindade que era o centro de tudo dá lugar ao ser humano como centro das atenções. O humanismo trata-se de uma cultura, uma política e uma moralidade baseada em valores materialistas. Num sentido amplo, humanismo significa valorizar as pessoas primeiro, por isso está relacionado à generosidade, compaixão e ênfase na avaliação de qualidades e realizações pessoais e coletivas.
O materialismo só se tornou parte do discurso filosófico nos primeiros dias da Europa moderna e das colônias britânicas americanas. Então, quase todos os pensadores que rejeitam o cristianismo acreditam que o progresso humano depende do nível de conhecimento científico não de conceitos religiosos. A relação entre o materialismo filosófico e o novo mundo da descoberta e experimentação científica foi exemplificada por Spinoza, que, apesar de tudo era visto como a fonte intelectual do ateísmo no final do século 17 e início do século 18. Depois que ele foi expulso da comunidade judaica de Amsterdã nos anos 1650 como herege, Spinoza ganhou a vida fabricando lentes de alta qualidade para microscópios e telescópios. Nesse momento ele entrou numa relação de trabalho com Christian Huygens, um dos maiores físicos da época. Spinoza sustentava que não havia ser ou poder sobrenatural separados e transcendendo o mundo material. O mundo material era eterno e era governado por leis imutáveis. Não havia componente espiritual nos seres humanos e nenhuma alma imortal. Alguns estudiosos, como Jonathan Israel, argumentaram que Spinoza era, na verdade, um ateu. Mas, a maioria dos historiadores e filósofos intelectuais o categorizam como panteísta, ou seja, alguém que identifica deus com a natureza. Spinoza acreditava que o mundo natural estava imbuído de uma harmonia benevolente que, se entendida, levaria a relações harmoniosas entre os homens. Ele foi um representante inicial e destacado do racionalismo iluminista: a visão de que o bem-estar da humanidade deveria se basear no conhecimento e na conformidade com as leis da natureza.
O termo “materialismo” foi cunhado em 1702 pelo famoso matemático, cientista e filósofo alemão Gottfried Leibniz. Durante o Iluminismo em 1748 o termo materialismo foi utilizado pelo filósofo e médico francês La Mettrie, considerado pioneiro em descrever os humanos como máquinas feitas de carne. Qualquer um que discordasse da filosofia de La Mettrie usou alegações platônicas de imoralidade do ateísmo para justificar sua morte. Diz-se que a celebração dos prazeres sensuais da vida levou à morte prematura de La Mettrie aos 41 anos.
Em 1770 foi publicado um livro que tentou popularizar o materialismo ateísta, intitulado Sistema da Natureza, ou, as Leis do Mundo Moral e Físico, por seu autor Barão d’Holbach e seu colaborador Jacques-André Naigeon. Esses filósofos iluministas franceses acreditavam que todos os fenômenos, incluindo o pensamento e a ação humana são derivados apenas da matéria em movimento e que o universo é governado por leis imutáveis que são, em princípio, conhecidas através de investigação e experimentação científica. Um estudioso atual, Alan Charles Kors, comentou as implicações sociais do materialismo ateísta de Holbach e Naigeon:
“Eles acreditavam que, quaisquer que fossem os propósitos historicamente impostos pelo teísmo e pelo imaterialismo, essas visões surgiram dos desejos naturais da humanidade para dissipar e desviar o desamparo que era sentido na presença dos poderes impressionantes do todo — a natureza — em relação à parte — humana. A tragédia da humanidade, para eles, não residia nesses desejos, mas no modo disfuncional de sua expressão.” Michael Hunter e David Wootton, eds., Atheism from the Reformation to the Enlightenment, 1992.
Um século após o famoso trabalho de Holbach e Naigeon, o materialismo ainda era raríssimo entre as elites intelectuais. Os intelectuais burgueses que espalham o materialismo, como Feuerbach na Alemanha do século 19 e Charles Bradlaugh na Inglaterra vitoriana, ganharam de imediato notoriedade política.
Nomes como o Barão d'Holbach popularizaram o termo “ateu”, que era uma ofensa contra os materialistas, isso gerou uma longa lista de problemas conceituais permitindo o surgimento de várias formas de proto-materialismo. O materialismo é a total negação do sobrenatural, o termo ateu, permite a existência de ateus que acreditam em conceitos sobrenaturais e correntes políticas antimaterialistas. Então essa falácia semântica só será revolvida abandonando o termo ateísmo, ou então como proponho a criação do proto-ateísmo, ou seja, proto-materialismo para categorizar várias formas de pensamento que se aproximam do materialismo puro.
Na Grã-Bretanha a religião continuava a desempenhar um papel importante no movimento operário, no resto da Europa a secularização do proletariado foi parte integrante da consciência progressista e do desenvolvimento da classe trabalhadora, sindicatos e organizações políticas. O materialismo ganhou seguidores quando o capitalismo industrial evoluiu para a visão histórica de que superar a escassez econômica se tornou uma realidade. No final do século 19, partidos foram estabelecidos para expressar os desejos da classe trabalhadora, na esperança de realizar a reconstrução socialista econômica baseada no princípio humanista de riqueza material para todos.
O materialismo quando bem entendido sempre implica no “humanismo”, sendo o espectro da esquerda política. Portanto, um ateu coerente sempre será algo próximo ao anarco-comunismo, ou marxismo. Obras filosóficas como as de Bakunin e de Karl Marx demonstram que o materialismo tem significado histórico, sociológico e político.
Em obras como “Deus e o Estado” Bakunin nega o princípio da autoridade manifestado na teologia e na religião, manifestado nas relações sociais e política dos países monárquicos constitucionais. Portanto, a negação da autoridade é a negação da herança, da religião, do idealismo, do estado burguês e da família patriarcal, sendo na economia, na política e na sociedade a manifestação do mesmo princípio de autoridade através da propriedade privada e exploração. Assim, o ataque ao patriarcado faz parte de um conjunto de ações que priorizam a transformação das condições e fundamentos do Estado na sociedade e na economia. Para Bakunin apenas uma revolução social poderia acabar com o poder estatal das religiões.
O marxismo era a doutrina oficial do movimento operário na Alemanha, no estado austro-húngaro e na Rússia czarista. Não apenas estudantes de esquerda, mas também jovens trabalhadores politicamente avançados e atenciosos adquiriram uma visão materialista do mundo estudando obras como Anti-Dühring, de Friedrich Engels, e O desenvolvimento da visão monista da história, de Georgi Plekhanov. Mesmo em países como a França, onde o marxismo não era a doutrina oficial do movimento operário, seus principais líderes, por exemplo, Jean Jaurès no Partido Socialista anterior a 1914 eram, em geral humanistas racionais hostis às igrejas estabelecidas. Por outro lado, os partidos de direita apelaram à autoridade da religião tradicional patrocinada pelo estado e hoje em dia ainda o fazem; pois, o conservadorismo religioso é uma das principais características da direita política, ser conservador é sempre ser religioso de alguma maneira.
Por confusões conceituais de muitos filósofos, o caos pós-moderno domina as correntes de pensamento contemporâneo e aliena as pessoas ao separarem o ateísmo do materialismo. O ateísmo é uma crença no mundo material, uma conexão forte com a realidade, em última análise, implica humanismo, uma atitude positiva em relação ao mundo centrada na experiência, pensamento e esperança humana. Os humanistas acreditam que a experiência humana, a cooperação e o pensamento racional são a única fonte de conhecimento e princípios morais.
Muitos que se acham ateus jamais chegarão a ser ateus plenos. Muitos mesmo quando ignoram os deuses alheios e se declaram ateus acabam se baseando em valores morais, ideologias políticas e crenças espirituais que negam o ateísmo. Crenças essas que culminam na defesa de ideias irracionais, ideias políticas que prejudicam o movimento ateísta, prejudicam a busca pela racionalidade que é a base da descrença. Estas criaturas são uma clara transição entre a religião e o materialismo puro, eles são apenas proto-ateus.
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